Aplausos para o movimento Slow Kids
Nossas experiências

Aplausos para o movimento Slow Kids

02 fev 2016

Essa semana me deparei com um vídeo na internet do encontro do movimento “Slow Kids” em São Paulo. Me apaixonei! O “Slow Kids” é um conceito criado por duas mulheres e se baseia em uma abordagem à infância visando a desaceleração e a importância do brincar, do contato com a natureza e de atividades ao ar livre. Achei lindo e amei a ideia logo de cara. Vi que o último encontro que eles tiveram foi no Parque Villa Lobos em novembro e fiquei meio triste por não morar no Brasil e não poder participar desse tipo de atividade com os meus filhos. Mas então comecei a pensar e percebi que a maternidade que estou tendo a oportunidade de vivenciar aqui na Suíça é um pouquinho desse movimento todos os dias.

slow1

Não posso comparar com nenhum outro país, pois minha experiência com a maternidade se restringe à Suíça. Mas o que posso dizer é que observo que por aqui as crianças têm a chance de aproveitar a infância de uma forma super natural e arriscaria até mesmo dizer um pouquinho “à moda antiga”. As brincadeiras de rua e o contato com a natureza são regra, não a exceção. Até em cidades maiores como Zurique existe o empenho do governo para que as crianças tenham acesso à parquinhos em uma distância a pé de suas casas. Em bairros residenciais ou regiões mais afastadas, como estou morando agora, as ruas parecem uma extensão das casas. Vale “correr lá fora”, desenhar na rua com giz, andar de bicicleta, patins ou patinete. Escorregadores, balanços e gangorras são fáceis de encontrar e qualquer gramado parece ser um convite para um piquenique gostoso. As fontes das praças se transformam em piscininhas nos dias quentes e os tanques de areia recebem visita de dezenas de baldinhos por dia. Não é preciso se deslocar até algum parque. É só virar a esquina.

Criança aqui brinca mesmo. Brinca na rua. Brinca no sol, na chuva e na neve.

Acho que nesse sentido a segurança ajuda muito. As escolas aqui não têm nem muro, e as crianças são desde cedo estimuladas a irem e voltarem a pé com seus amiguinhos e fazerem suas descobertas pelo caminho. Se por um lado a oferta de creches na Suíça e apoio para mães e pais que trabalham fora ainda é insuficiente e super cara, existe a possibilidade de trabalhar meio-período. Conheço inclusive alguns pais que reduziram sua carga horária para participarem mais ativamente da educação das crianças. É verdade que a maioria dessas vagas pode não ser tão desafiadora e não levar a uma carreira fulminante, mas permite que as mamães não precisem se afastar do mercado de trabalho para conseguirem desfrutar de mais tempo com a família.

slowNo passado eu me questionei muito sobre o “não fazer carreira” para ficar com os filhos. Olhava as mulheres sentadas com seus filhos nos parques no meio tarde e tentava imaginar como elas se sentiam. Será que se sentiam “vazias”? Hoje sou uma delas e posso dizer que me sinto muito, muito feliz. Mas esse é o resultado de um caminho que ainda estou trilhando…

Em meio às minhas dúvidas critiquei inclusive o sistema educacional Suíço. Afinal de contas onde já se viu não alfabetizar uma criança já no jardim de infância? Que perda de tempo!!! Ai ai ai, mais uma lição da vida – estou vendo meu coração amolecer e minha mente se abrir a cada dia que minha filha volta do jardim de infância com um novo projetinho: um anãozinho de tecido que ela mesma costurou, cookies de natal que ela assou, velas de inverno que ela fez com os coleguinhas, joguinhos feitos de tecido, jogo da memória feito com tampinhas de garrafa, convite para um teatrinho que eles montaram etc. Isso tudo é perda de tempo? Todas as segundas-feiras eles vão com a escolinha para a floresta e comem salsicha na fogueira. Ela pode não saber escrever ainda, mas sabe o nome de várias plantas que eu nem conheço. E mesmo sem estar sendo oficialmente alfabetizada seu interesse pelas letras está crescendo naturalmente. Cada dia ela pede para que eu a ensine a escrever algo diferente, o que eu faço com a maior alegria. E assim ela também tem aprendido a contar. Naturalmente. Sem pressa.

A agenda dos meus filhos não é cheia de compromissos. Agora eles ainda são crianças e precisam brincar. Se não agora, quando? Então venho ajustando o meu relógio para que eles possam aproveitar ao máximo essa fase linda de suas vidas. Para que possam pular na poça de água, brincar de bambolê, fazer corrida de saco e tudo o mais que for possível. Com calma e por inteiro. E melhor ainda: tenho tentado desacelerar junto com eles para que todos nós possamos desfrutar de tudo isso juntos.

Na verdade acho que não sou apenas a favor do slow kids; sou a favor do SLOW em geral. Estamos em um ritmo tão alucinante de vida que nem vivemos mais. Seguimos na inércia, sem parar e muitas vezes sem nem sentir. Através dos meus filhos aprendi a desacelerar. Aprendi que “devagar” pode ser muito bom. E essa nova velocidade passou a dar um sabor muito especial à minha vida. Ao invés de me irritar quando eles param para pegar uma florzinha no caminho tento agachar e pegar uma também. Mas isso faz parte de um longo processo de desapego. Precisei e ainda preciso me desapegar de alguns valores para dar espaço a outros. Precisei entender que tudo na vida tem seu tempo, e que não focar em um aspecto da vida agora não quer dizer que esse não possa ser retomado depois. Aprendi que podemos nos definir através de diversos papéis e que todos eles têm sua importância. Cada um a seu tempo. Aprendi e continuo aprendendo.

Sou grata aos meus filhos por me ensinarem tudo isso.

Aplausos de pé para o movimento “Slow Kids“. Que venham muitos e muitos encontros lindos como esse e que possamos viver pequenos momentos assim todos os dias!

Um grande abraço,
Grazi

Com carinho, Grazi
Compartilhe o post
Deixe seu comentário