Meus filhos, os pediatras suíços e eu
Saúde

Meus filhos, os pediatras suíços e eu

06 maio 2016

mamaesnasuica_doctorAntes de ter filho eu nunca havia conversado com ninguém a respeito da pediatria aqui na Suíça, então esperava alguém como o Dr. Evandro, o pediatra que me acompanhou até os 15 anos de idade. No fim eu morria de vergonha quando, com quase 1.70m dividia espaço na sala de espera do consultório dele com um bando de bebezinhos. Mas como mãe eu entendo o alívio da minha ao saber que podia confiar cegamente na habilidade dele.

Mas aqui na suíça minha experiência foi um pouco diferente. Minha filha nasceu um mês e meio antes do esperado e eu nem tinha tido pensado em começar a procurar um pediatra. Ainda na maternidade recebi uma lista de médicos na região onde morava e logo percebi que não teria muita liberdade para escolher o médico de acordo com a minha preferência. Alguns aceitam pacientes de outras regiões, mas muitos limitam sua clientela às áreas próximas de onde atuam.

Outro susto: “não aceitamos novos pacientes”. Oi??? Nunca pensei que ouviria isso, mas ouvi de dois médicos que contatei. No fim acabei conseguindo vaga em uma clínica longe da minha casa, mas perto do hospital onde minha filha nasceu. Eles tinham inaugurado recentemente, então estavam aceitando “tudo”. E lá fomos nós.

Era uma clínica com pediatras residentes também, então cada vez a consulta era com um, a não ser que especificássemos com quem gostaríamos de marcar. Com o tempo percebi como isso é ruim, pois não permite um acompanhamento individualizado e pessoal. A primeira consulta foi com o médico chefe, dono da clínica. Tudo normal, mas comecei a achar estranho quando eu, super insegura por ter que colocar minha filha com apenas 4 meses de idade na creche, perguntei se ela teria mais chances de ficar doente com freqüência, devido à exposição precoce com outras crianças e a resposta foi: “eu tenho cara de vidente?”. Sem muito o que fazer tive que engolir, mas a insatisfação foi aumentando.

Uma vez liguei pois ela estava com bolinhas nas mãos e nos pés e eu suspeitei que poderia ser catapora. Nunca tive catapora, então só conheço de ouvir falar e da internet. A assistente, esbanjando gentileza, perguntou “mas é catapora ou não é? Se for a senhora não pode trazer sua filha sob o risco de contaminar outras crianças.” Eu respondi “não sei se é catapora ou não, vocês é que são médicos, não eu. Pode me arrumar um encaixe agora que estou levando minha filha imediatamente”. Não era catapora, e sim Hand-Mund-Fuss-Krankheit, doença que eu nem sabia que existia!

O tempo foi passando e fui arrastando… mas meu rompimento com essa clínica aconteceu quando minha filha quebrou a perna e meu marido ligou para lá e a assistente disse para ele levá-la até lá para ser examinada. Eu fui contra, mas ele “acredita no sistema” e quis ir mesmo assim. Ao chegarmos a médica perguntou: “o que vocês estão fazendo aqui?? Deveriam estar no hospital. Nem temos máquina de raio-X”. Eu gentilmente respondi que foi por pura incompetência da assistente dela. Na verdade gentilmente gritei. Resultado: minha filha teve que passar por uma cirurgia de emergência no fêmur. E só Deus sabe se todo esse processo de levar de carro de um lugar ao outro não piorou ainda mais o quadro todo…

Bem, arrumei outro médico, dessa vez bem perto da minha casa (três minutos a pé). Médico super simpático, que por coincidência havia trabalhado na outra clínica e não gostava do método de lá. Eba, ganhou pontos comigo logo de cara. Mas perdeu todos quando tirou o curativo da cirurgia da Isabella sem paciência alguma e quase arrancou um dos pontos. Depois entrou no negativo quando foi grosso na hora de dar vacina, ficou irritado quando ela começou a chorar e interrompeu o resto do exame me mandando ir para casa e retornar outro dia.

No fim quase o processei quando a Isa teve um incidente na creche e um objeto ou cisco entrou no olho dela e ela teve uma fissura na córnea. Fui com ela correndo no hospital. Pedi ao pediatra um encaminhamento a um especialista pois estava “meio” sem confiança, uma vez que no hospital o médico oftalmo, após a triagem inicial, examinou o olho errado da Isa (sem brincadeira!!) e só examinou o correto quando eu reclamei para a médica da emergência. Mesmo assim o pediatra disse que não achava necessário. Pedi então uma cópia dos exames que hospital havia enviado para o médico, mas a assistente disse ter jogado o resultado fora e não registrou nada no sistema, somente a data do acidente. Liguei reclamando e ao invés de se desculpar e providenciar uma segunda cópia ela falou que eu é que deveria ligar no hospital e pedir uma cópia. Me recusei e afirmei que isso era responsabilidade dela, pois como pediatra eles tinham a obrigação de guardar os exames digitalizados ou ao menos registrar os resultados. Liguei novamente cobrando, alguns dias depois, mas não fui atendida. Eles devem ter identificador de chamadas pois liguei três vezes nesse dia em horários diferentes e ninguém atendeu. Na mesma noite o médico ligou para o meu marido reclamando de mim, dizendo que eu ligava sem parar para a assistente dele e terminou dizendo que na clínica dele ele é quem dita as regras (!!). Só não entrei com uma queixa formal ou processo pois infelizmente não sei como proceder e a quem recorrer. Afinal, ele também disse que não era necessário um especialista, quando o laudo do hospital recomendava um controle em oftalmo a cada seis meses. Mas infelizmente ele escolheu ser arrogante ao invés de competente.

No mesmo dia pesquisei outros médicos na região e encontrei uma médica de uma clínica integrativa. Desde então estamos super felizes. Nos mudamos para outra cidade mas continuo levando as crianças lá. Ela tem três filhos meninos, não se assusta com choradeira, entende que criança tem medo de injeção, brinca com eles, interage. E acima de tudo me respeita. Esse contato com os pais é essencial. Nós temos sim o direito de contestar um diagnóstico, de pedir consultas com especialistas, de dialogar mais. Ela reconquistou a confiança da Isa e a minha também. Com ela voltei a respirar aliviada e a Isa deixou de ter medo de ir ao médico.

Quando ouço alguém perguntando sobre pediatras e médicos aqui na Suíça entendo a aflição. Mesmo falando alemão eu enfrentei e enfrento diversos obstáculos, então imagino as pessoas que ainda têm a barreira do idioma. Mas vale insistir, pois existem inúmeros profissionais competentes por aqui. Assim como em qualquer outro país. Eu tive experiências meio ruins com profissionais ou hospitais que outras pessoas provavelmente gostaram. Experiências são pessoais e não devemos generalizar. Converse bastante com amigos, busque informações e peça indicações. E como eu escrevi no meu post “Minha experiência com médicos na Suíça”, quando você encontrar um(a) que goste, peça em casamento imediatamente!! 😉

Mas que uma coisa fique clara: mesmo no “melhor” pediatra suíço é bom entender que o acompanhamento pode ser diferente do que estamos acostumados. Se não tiver nada de extraordinário os intervalos das consultas são normalmente: no primeiro mês de vida, depois comdois, quatro, seis e nove meses, um ano, 18 meses, dois, quatro, seis, dez, doze e quatorze anos de idade. Dúvidas do dia a dia quanto aos bebês e crianças pequenas, assim como pesagem, medida, alimentação etc. são exclarecidas normalmente pela Mutterberaterin (aconselhadora de mães). Na sua comunidade (Gemeinde) ou no site www.muetterberatung.ch você pode encontrar os locais e horários de atendimento mais próximos da sua casa.

Se tiver mais dúvidas ou precisar de ajuda estamos aqui 😉 ! Escreva para a gente: mamaesnasuica@gmail.com

Com carinho,
Grazi

** Mais informações sobre médicos na Suíça clique aqui.

Com carinho, Grazi
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6 comentários
  1. Dirlene López
    10 maio 2016

    Sei como deve ser isso.. nós tivemos muita sorte. Nosso pediatra tb tem 3 filhos e você percebe a paciência dele. Tem gente que nasceu para exercer a profissão e outros não. Bjs

    • Mamães na Suíça
      10 maio 2016

      Não é uma profissão pra qualquer um, sabe? Além de muita paciência e “jeito” com as crianças, é preciso saber respeitar e lidar com os pais também. Afinal, muitas vezes quando procuramos o médico é porque estamos preocupados com algo e aflitos.

  2. Paulo Silva
    19 maio 2022

    Boas eu sou de Spreitenbach cantão de Argauu,mesmo colado Zurique meu bebé nasceu 4 dias logo no hospital disseram nos para procurar pediatra,logo comecei buscando um que falasse Português ou Inglês, já vi uns quantos,ou dizem que estão cheios ou atendem só a partir dos 4 Anos,minha esposa está ficando stressada visto que 21 primeiro dia tem que ter a primeira consulta e é só negas.Ela não pode estar em stress por está a dar peito ao meu bebê, se nos puder ajudar ficava agradecido.

    • Oi tudo bom Paulo?

      Desculpa que so vi sua mensagem agora. Você tentou o site http://www.doctorfmh.ch? Eu consegui o pediatra do meu filho por esse site, ele separa por região, especialidade e idioma. Apareceu algumas opções e eu entrei em contato com todos e tive sorte de achar um que hoje em dia eu recomendo e muito.

      Espero que ajude

      Rita

  3. S
    18 jul 2022

    Não aceitarem novos é super comum
    Onde vivo não aceitam ah e se alguém ficar doente as contas do médico e pediatra e eu wtf mas o seguro paga de outros médicos
    O meu filho nasce no hospital e será seguido pela médica que sempre me seguiu

  4. S
    08 nov 2022

    Eu em Portugal acho que não tive sempre o mesmo pediatra. Na verdade termos sempre os mesmos médicos é algo que não nos faz confusão se não tivermos desde que sejam bons. Em Portugal é um pouco como na Suíça. Não vamos marcar consulta se for urgência. Em Portugal há o hospital pediátrico e aqui ns Suíça se for emergência onde moro vemos os médicos disponíveis para a urgência.
    Eu quando tive o meu na Suíça tive a 30 e tal km por ser o hospital mais perto e no hospital deram-me a lista. O que eu escolhi é o que fez serviço no hospital e disse que ele podia ter alta. Alguma coisa mais simples temos o nosso médico de família que foi o que me seguiu na gravidez