Nós do blog, assim como as mamães que participam dos encontros do Grupo Mamães da Suíça estamos sempre discutindo sobre bilinguismo. Esse é um tema muito importante para nós, uma vez que o grupo foi criado em 2012 com o objetivo inicial de promover a língua portuguesa entre nossos filhos. Nós estamos sempre procurando mais informações sobre o assunto e já organizamos uma palestra sobre o bilinguímo e publicamos o post “¿Son las personas bilingües más inteligentes que los monolingües?” de uma neuropsicóloga especializada no assunto.
Agora convidamos a Fonoaudióloga Isabela Gomes Perrucci para um bate-papo/palestra no dia 30 de maio para abordar o mesmo tema sob uma outra perspectiva, focando mais no desenvolvimento da fala. Estamos super animadas!! Só para aquecer segue o texto que a Isabela preparou especialmente para o blog… (super obrigada!)
******************************
A linguagem infantil se desenvolve no contexto da família, da sociedade e da cultura na qual ela está: a criança ouve os pais e demais adultos falarem com ela durante os banhos, brincadeiras, passeios, etc e após uma sequência de vocalizações, balbucios, sílabas com significados, palavras e frases, por imitação dos adultos ou não, a observamos com um bom desenvolvimento dessa língua familiar até aproximadamente quatro anos de idade, já sendo possível compreender muito daquilo que ela diz.
Porém, o mesmo ocorre com crianças em contextos bilíngues ou plurilíngues?
Sabemos que é errôneo comparar marcos de desenvolvimento de fala entre crianças monolíngues e bilíngues, pois há diferenças linguísticas, cognitivas (conhecimento) e neurológicas entre os dois grupos, isto é, a forma como as crianças se organizam em relação ao desenvolvimento de uma ou mais línguas é diferente. Por isso é ruim para os pais comparar a fala do seu filho com a do priminho do Brasil! Deve-se ter em mente que as duas crianças caminham por trajetos diferentes!
Especialistas em bilinguismo sugerem que pais falantes de línguas diferentes entre si (por exemplo: a mãe é finlandesa e o pai é espanhol) se comuniquem com seus filhos em seu próprio idioma, cada um exercendo o seu papel na disseminação dessa língua através de histórias infantis, músicas, brincadeiras, diálogos espontâneos do dia-dia… Isso é muito importante para que elas aprendam a correta forma linguística: cada som da fala, as sequências das palavras, entonação, aspectos culturais da comunicação, a futura forma ortográfica na forma escrita, etc.
Não há evidências científicas que apontem a estimulação de dois idiomas ou mais como fator de atraso de linguagem. Tal aquisição ocorre em fases e etapas seguidas e é possível que tal evento ocorra em idades diferentes, cada criança com seu próprio ritmo. Portanto, a possível sugestão das escolas de que a criança deve aprender apenas a língua local não é aconselhável e não justificável. Não há pesquisas que mostrem isso!
Porém, é importante salientar que as famílias fiquem atentas para possíveis atrasos de linguagem (estes surgiriam na presença de contexto mono ou plurilíngue), que são identificados com apoio das escolas, médicos, fonoaudiólogos e psicólogos.
No nosso contexto suíço há diversas iniciativas para estimular a língua materna (ou de herança) no país. A ABEC (Associação Brasileira de Língua e Cultura) e a Associação Raízes (Associação Raízes para a Língua e a Cultura Brasileira) são exemplos de instituições que ministram os Cursos de Língua e Cultura de Herança do Português do Brasil, bem como outras iniciativas de promoção da língua de herança no país.
Quer saber mais? O Grupo Mamães na Suíça convida a todos para um encontro no dia 30 de maio, às 19:30, no CEBRAC!
Isabela Gomes Perrucci
Bacharel em Fonoaudiologia pela USP, com especialização em Linguagem. Atuando na Suíça com “Português como Língua de Herança” através dos trabalhos como educadora da ABEC e contadora de histórias infantis no projeto “Conte-me uma História” da Biblioteca da cidade de Baden.
Contato por e-mail: fgaisagomes@yahoo.com.br ou telefone: +41 79 120 4775
Referência Bibliográfica:
Adams, DA. et al. Neural circuits underlying mother’s voice perception predict social communication abilities in children. PNAS Early Edition [Internet], Mai 2016. Disponível em: http://www.pnas.org/content/early/2016/05/10/1602948113.full
Marian, V. et al. Bilingualism: Consequences for Language, Cognition, Development and the Brain. The ASHA Leader, October 2009, Vol. 14, 10-13.
As imagens que ilustram este post foram foram retiradas da internet. Caso estejam desrespeitando direitos autorais por gentileza entre em contato conosco que as imagens serão retiradas imediatamente.